A ROTA SEGUIDA POR VASCO DA GAMA PELO ATLÂNTICO SUL ,NA SUA
PRIMEIRA VIAGEM À INDIA
Por vezes algum acontecimento nos abre as portas para a resolução de problemas que aparentemente ninguém tinha tido a percepção de que aí estava a solução.
Com a tragédia do Airbus da Air France, que naufragou a alguns kilometros da costa brasileira,
dia 31.05.2009, tivémos conhecimento da existência de umas ilhas, perdidas no Atlântico,
conhecidas por arquipélago de S. Pedro e S. Paulo, e assim, pela primeira vez, podémos
compreender exactamente a Álvaro Velho, na descrição que faz da primeira viagem de Vasco da
Gama à India, narrada no chamado ROTEIRO. (ver no final extrato do ROTEIRO).
Álvaro Velho, era Vedor, ou até mesmo piloto de uma das naus da armada e, portanto, testemunha directa dos acontecimentos. Alguns historiadores, pretendiam que este Álvaro Velho fosse um simples marinheiro, e até alguns dizem que seria um degredado, esquecendo-se que naquela época, todo aquele que sabia escrever, teria que pertencer obrigatóriamente à nobreza ou à alta burguesia comerciante e, que, nenhum nobre, ou burguês, poderia ter sido enrolado como um simples marinheiro. Álvaro Velho aparece descrito como Vedor da armada de Vasco da Gama, no livro de J. M. Latino Coelho, com o título: " VASCO DA GAMA".
Pela leitura do Roteiro, único testemunho directo daquela viagem, se deduz que este Álvaro Velho acompanhou a Vasco da Gama nas várias visitas que este fez ao Samorim de Calecut. Ora,
um simples marinheiro, ou mesmo um simples soldado, e nunca um degredado, jamais teria tido
esse privilégio.
Também nos apoiamos no relato que este faz, na angra de S. Braz, para afirmar que era um dos
principais da tripulação, pois como nos diz na pág. 9:" vieram obra de noventa homens baços... E
nós estavamos todos ou a mayor parte de nós a este tempo na naoo do capitam moor", Não
podemos imaginar que toda a tripulação da frota estivesse a bordo da nau capitana, portanto,
quando diz: " nós estavamos todos ou a maior parte de nós", se refere aos nobres e principais da
tripulação. Já anteriormente na pág 6 e 7 nos indica que, quando Fenão Veloso acompanha os
indigenas de Santa Helena por terra a dentro, os outros regressão aos navios e, " nós tornámonos ao navio do capitam mor a cear... e nós estavamos ainda ceando, e quando o ouvimos ( enquanto
ceavam, Fenão Veloso voltou á praia e chamou os seus), deixaram logo os capitães de comer, e nós outros com eles ". Ora como sabemos, Álvaro Velho não ía embarcado com Gama, mas é
convidado, ou acompanha a este em várias ocasiões a cear ou a ir ao seu navio.
Segundo estudos de genealogia ,que incluimos parcialmente em apendix, Álvaro Velho seria
membro de uma das familias mais antigas e nobres de Portugal, com origem nos Velho, e
entroncada com a familia de Pedro Alvares Cabral.
Pela leitura do Roteiro, sabemos que de Lisboa saíram 4 naus com a missão de descobrir a India,
das quais, uma, era de apoio ou nau de mantimentos: " Na era de 1497 mandou el-rei D. Manuel, o primeiro deste nome em Portugal. a descobrir, quatro navios, os quais iam em busca de
especiarias, dos quais navios ia por capitão-mor Vasco da Gama, (1) e dos outros: dum deles Paulo da Gama, (2) seu irmão, e do outro Nicolau Coelho (3)". Álvaro Velho não nos indica o nome do capitão da naveta de mantimentos.. Esta foi desmantelada nas costas da África do Sul e não queimada, como pretendem alguns historiadores, pois Alvaro Velho nos diz na página 9 do Roteiro " entrámos na angra de Sam Brás, onde estevemos treze dias, porque nesta angra desfezemos a naoo que levava os mantimentos e os recolhemos aos navios".
Segundo Alexandre Herculano e o Barão do Castelo de Paiva, no seu livro "ROTEIRO DA
VIAGEM DE VASCO DA GAMA", 'a armada da descoberta estava integrada por duas naus de
tamanho médio e tres mastros, a S. Gabriel de 120 toneladas, a S. Rafael de 100 toneladas, a
caravela Berrio, de 50 toneladas, e a naveta de mantimentos, outra nau de 200 toneladas. Os
primeiros dois foram construidas sob a direcção de Bartolomeu Dias (que já tinha experiencia dos
mares autraes), e da madeira que D. João II já tinha mandado cortar a João de Bragança, seu
moço do monte, e que fora conduzida para a Casa da Mina em 1494; sendo o agente desta
construção e do despacho de toda a armada Fernão Lourenço, tesoreriro da referida casa e um dos magnificos homens daquele tempo. A caravela foi comprada por el-rei D. Manuel a um piloto da vila de Lagos, chamado Berrio, de quem a embarcação tomou o nome. A nao de mantimentos
também foi comprada por D. Manuel a um Aires Correia.
Na capitania, o S. Gabriel, ía por capitão mor Vasco da Gama, levando por piloto Pero de
Alemquer, que com Bartolomeu Dias tinha chegado até o rio do Infante no ano de 1487 e por
escrivão Diogo Dias, irmão de Batolomeu Dias.
No S. Rafael ía por capitão Paulo da Gama, irmão do Capitão mor, por piloto João de Coimbra, e
por escrivão João de Sá.
Na Berrio ía por capitão Nicolau Coelho, por piloto Pero Escobar, e por escrivão Alvaro de Braga.
Na nau de mantimentos ía por capitão um criado de Vasco da Gama, chamado Gonçalo Nunes, a
quem Castanheda, chamou por engano na 1ª edição do seu 1º livro de Gonçalo Gomes,
emendando-se para Nunes na 2ª. Íam por interpretes, do arabico Fernão Martins e da lingua dos negros Martim Afonso, que pormuito tempo andara em Manicongo, como nos diz Álvaro Velho.
A História conserva ademais os nomes de Alvaro Velho, Fernão Veloso, Gonçalo Pires, Gonçalo
Alvares, mestre do navio S. Gabriel, Sancho Mexia, Pedro de Faria, os irmãos Figueiredo e
Francisco, ambos mortos no cabo das Correntes, e Leonardo Ribeiro. Seria capelão da armada
Pero de Cobillones, religioso da Ordem da Trindade, segundo Faria de Sousa na sua Asia.'-
A bordo iriam 160 homens, dos quais, apenas chegaram a Lisboa 55. Haviam morto 32% da
tripulação naquela magna aventura . Entre estes iriam cerca de 10 ou 12 degradados, que Vasco da Gama levava para deixar em terra em pontos em que lhe parecesse poderiam tomar informação da mesma, os quais deviam ser recolhidos aos navios na volta da armada para Portugal.
Isto nos leva, inevitavelmente, a colocar a questão em que navio ía embarcado Álvaro Velho..."E
foi de noite tamanha a cerração que se perdeu Paulo da Gama de toda a frota por um cabo e, pelo
outro, o Capitão-mor. E, depois que amanheceu, não houvemos vista dele nem dos outros navios; e nós fizemos o caminho das Ilhas de Cabo Verde como tinham ordenado que quem se perdesse
seguisse esta rota." E pelo amanhecer não houvemos vista dele ( de Paulo ou do Capitão-mor ? )
nem dos outros navios...
Iria Alvaro Velho a bordo do navio de Paulo da Gama? Ou a bordo de outra nau?
"Ao domingo seguinte, (23/07) em amanhecendo, houvemos vista da Ilha do Sal, e logo daí a uma hora houvemos... (Alvaro Velho estava neste 1º navio )... vista de três navios, os quais fomos demandar; e achámos... (1º ) a nau dos mantimentos, ...( 2º a nau de )... Nicolau Coelho e... ( 3º a nau de )... Bartolomeu Dias, que ia em nossa companhia até à Mina, os quais também tinham perdido o Capitão-mor." ( que seria o 5º navio)... "E, depois de sermos juntos, seguimos nossa rota, e faleceu-nos o vento e andámos em calmaria até à quarta-feira seguinte.(26/07) E, às dez horas do dia, houvemos vista...( do 5º navio)... do Capitão-mor, avante (de) nós obra de cinco léguas;" (entre a Ilha do Sal, pela manhã do dia 23/07, e o dia 26/07, estiveram em calmaria, de tal forma que "às dez horas do dia, houvemos vista do Capitão-mor, avante nós obra de cinco léguas; e sobre a tarde nos viemos a falar com muita alegria"... Ou seja, caminharam 5 léguas (27,7 km ou 15 milhas) em 7 horas aprox. o que dá 2,1 nós de velocidade média, supondo que Vasco da Gama teria reduzido pano para deter a sua marcha e deixar-se alcançar pelos outros). " ao outro dia (27/07), que era quinta-feira, chegámos à Ilha de Santiago onde pousámos na Praia de Santa Maria com muito prazer e folgar".
Portanto, Alvaro Velho, que ía num navio, encontra a tres navios dos perdidos, faltando ainda por achar a do Capitão-mor. Seriam portanto no total 5 navios, dos quais um, o comandado por
Bartolomeu Dias, integrado na expedição mas com destino à Mina.
Pelo descrito sabemos que Álvaro Velho não ia embarcado nem na nau de mantimentos(1), nem na nau de Nicolau Coelho,(2) nem na nau de Bartolomeu Dias (3), nem na nau de Vasco da Gama (4). Álvaro Velho não refere o encontro com a nau de Paulo da Gama, o que nos levaria a pensar que estaria a bordo deste navio.
Mas se Álvaro Velho estava embarcado com Paulo da Gama, porquê não indica alguns factos,
importantes, narrados pelos historiadores, e que teriam passado a bordo da S. Rafael ?
Um dos casos mais relevantes que ignora o ROTEIRO, é o caso de que, estando a frota
inspeccionando o rio Zambeze, aconteceu o seguinte: " refere João de Barros que esteve a pique de achar nas àguas o sepulcro o imortal navegador. E foi o caso que estando Vasco da Gama e mais dois marinheiros numa pequena bateira junto à nau S. Rafael, conversando com o irmão, firmandose com as mãos nas cadeias da abatocadura, corria a àgua tão veloz, que furtando-lhe o batel, o deixou por breve espaço pendente naquela constrangida posição até virem acudir-lhe". Ora, um facto tão relevante, como este, não deixaria de ter sido contado por Álvaro Velho, se este estivesse embarcado na S. Rafael. Igualmente conhecemos, por Barros, que ao sair a frota do Zambeze a nau de Paulo da Gama foi tocar numa coroa de areia, e dando em seco ali se pôs em risco de lhe ficar encalhada para sempre, se daquele desastre se não livrara por efeito da maré". In "Vasco da Gama" de J.M.Latino Coelho. Estes dois acontecimentos não aprecem relatados no ROTEIRO.
Isto nos leva a supor que Álvaro Velho naqueles momentos não estava embarcado nesta nau e, se não estava embarcado na S. Rafael, em que nau estaria?
Alguns autores nomeiam o nome de uma outra Nau, a S. Miguel, nunca referida no ROTEIRO.
" À sexta-feira 2 de Março mandou Vasco da Gama que Nicolau Coelho na sua caravela,
porque era de todos os navios o menor e mais ligeiro, fosse na vanguarda e ele metendo o
Berrio ou o S. Miguel, por uma angra.... errou o canal e achou um baixo". In J.M. Latino
Coelho, pág 197.-
Ora no Roteiro, Álvaro Velho não indica o nome de S. Miguel, dizendo apenas que: "Á sexta feira
pela manhã, indo Nicolau Coelho por dentro daquela angra errou o canal e achou baixo..." " e que
Nicolao Coelho fosse primeiro com o seu navio a sondar a barra e que se fosse para entrar que
entrariam. E indo Nicolau Coelho para entrar foi dar na ponta daquela ilha e quebrou o leme, e
assim saio para o alto (mar) e eu era alí com ele-"
Estava Álvaro Velho a bordo da Berrio? Que significa "e eu era alí com ele"? Poderia simplesmente indicar que Álvaro Velho se encontrava apoiando a missão de sondar a barra, ou
simplesmente que se encontrava a bordo de outra nau, apoiando a Berrio que estaria sem governo por ter quebrado o leme... Se Álvaro Velho estivesse na Berrio, não teria sido mais lógico indicar: " e que Nicolao Coelho fosse primeiro com o seu navio a sondar ...... E indo nós para entrar fomos dar na ponta daquela ilha..." ?
Segundo alguns autores, entre eles J. M. Latino Coelho, Álvaro Velho seria Veador da armada, ou
da nau de Paulo da Gama. Assim, andaria de nau em nau, sem estar adescrito a alguma tripulação em concreto...
Cremos que O ROTEIRO è nitidamente um resumo de um diário de navegação, escrito por um
nauta, sem qualquer pretenção literária, que vai apontando apenas as incidências de viagem por ele vividas ou presenciadas, como o faria qualquer navegante, escrevendo sempre em 3ª pessoa, como normalmente o faz qualquer pessoa com mando, como por exemplo apontamos: "houvemos vista da Ilha do Sal", "houvemos vista de três navios, os quais fomos demandar; e achámos a";"Bartolomeu Dias, que ia em nossa companhia";"fomos demandar; e achámos "; "E, depois de sermos juntos, seguimos nossa rota, e faleceu-nos o vento e andámos em calmaria "; "À quarta-feira lançámos âncora na dita baía,(dia 08/11) onde estivemos oito dias limpando os navios e corrigindo as velas e tomando lenha. (16/11)" etc... etc... Nunca encontramos uma única palabra que indique subordinação, como por exemplo "nos mandaram", como seria lógico se fosse um simples individuo a bordo. O lógico, seria dizer: " quarta feira nos mandaram lançar ancora, onde nos mandaram limpar o casco dos barcos, remendar velas e apanhar lenha"...
A primeira frase do Diário de Navegação indica, logo de inicio, que quem escrevia era um dos
responsáveis, que se pôs a escrever assim que poude descansar das manobras da partida, e que, logo no inicio da aventura maritima, se encomenda a Deus, pedindo que, "nosso caminho, que Deus Nosso Senhor deixe acabar em seu serviço. Amém." (Esta frase deixa antever uma certa
preocupação de inicio de aventura, e até um certo temor ao desconhecido que se avizinha).
"Partimos do Restelo um sábado, que eram oito dias do mês de Julho da dita era de 1497, nosso
caminho, que Deus Nosso Senhor deixe acabar em seu serviço. Amém."
O inicio da narração parece ser a introdução feita pelo copista do ROTEIRO: "Em nome de Deus,
Amém. Na era de 1497 mandou el-rei D. Manuel, o primeiro deste nome em Portugal, a descobrir, quatro navios, os quais iam em busca de especiarias, dos quais navios ia por capitão-mor Vasco da Gama, e dos outros: dum deles Paulo da Gama, seu irmão, e do outro Nicolau Coelho."
Chama poderosamente a atenção que Álvaro Velho nunca indica o nome do capitão da naveta de
mantimentos, como se fosse comandada por alguém que não pertencesse à mesma categoria social
dos outros capitães, ou tivese uma missão menos importante na aventura da descoberta...
Deixando estas considerações, passamos então a analizar a viagem e rumos seguidos por Vasco da Gama pelo Atlântico Sul, auxiliando-nos de mapas de ventos e correntes maritimas dominantes para essa època do ano, e área de navegação, (Agosto, Setembro e Outubro).
Passando por alto a parte da viagem mais simples e conhecida, (a saida de Lisboa, a passagem
pelas Canárias e a peripécia das duas horas de pesca na costa africana), nos dedicaremos a analizar aquela parte da viagem sobre a qual não hà a mínima indicação sobre posições ou rumos seguidos, pois até nós não nos chegou o Livro de Bitácora onde esses apontamentos teriam sido feitos.
Uma das palavras chave para entender a derrota de Vasco da Gama pelo Atlântico Sul, e que
parece não ter sido bem entendida pelos historiadores e analistas do ROTEIRO, está no conhecimento do regime de ventos e correntes maritimas, que teriam que ter, para fazer aquilo que os navegantes da época chamavam de VOLTA DO MAR como nos indica Álvaro Velho: " E em vinte e dois do dito mês, indo na volta do mar ao sul quarta do sudoeste, (rumo 192º) achámos muitas aves, feitas como garções, e, quando veio a noite, tiravam contra o su-sueste". É esta a chave para entender que a frota, da 1ª viagem à India, se afastou do continente africano procurando ventos e correntes maritimas, que os ajudassem na travessia. Aqueles nautas já se haviam dado conta que, como no hemisfério norte, para cruzar o Atlantico Sul havia que fazer A VOLTA DO MAR ou ir contornando o mar. Havia portanto que navegar para Ocidente e em direção aos polos, para aproveitar ventos e correntes. Todo um conhecimento cientifico e de expertos navegantes.
Seguindo a Alvaro Velho, a frota saiu das Ilhas de Cabo Verde dia 3 de Agosto de 1497, com
vento de Leste e em direção a alto mar, por forma a evitar os ventos contrários e as calmarias da
costa da Guiné: "E uma quinta-feira, que eram três dias de Agosto, partimos em leste (com vento de Leste ) e, indo um dia com (rumo) sul, quebrou a verga ao Capitão-mor, e foi em dezoito dias de Agosto; e seria isto duzentas léguas da Ilha de Santiago."
Segundo os nossos cálculos, a 18 de Agosto a frota se encontrava a 594 milhas de Cabo Verde:
(200 léguas x 5,5 km por légua = 1.110 km que dividido por 1,852 km = 594 milhas; Teriam
navegado 594 milhas em 340 horas (aproximadamente), a uma média de 1,8 nós. " E indo hum dia com sul quebrou a verga do Capitam moor, e foi em XVIII dias de agosto, e seria isto CC legoas da Ilha de Samtiago, e pairámos com o traquete e papafigo dous dias e huma noute. " (Pairaram apenas levando as velas do traquete, ou do mastro de proa e a vela de papafigo, também de proa, relantizando a marcha para dar tempo à reparação da verga da nau capitana.
Alguns autores pretendem que esta ilha ou terra estivesse a oeste da frota mas como nos indica
Alvaro Velho, referindo- se ao Cabo de Boa Esperança, pág. 8 do Roteiro," e o dito cabo jaz de
nordeste sudueste", então temos que distinguir entre Sudueste e Susueste (SW e SSE). Já Marco
Polo nos indica que susueste fica entre o meio dia (S) e o SE. Assim, estas aves se dirigiam a E e
não a O, e a dita terra ou ilha estaria entre a frota e Africa.
"E isto bem oitocentas léguas em mar". Como anteriormente, calculamos: ( 800 leguas x 5,5 =
4.400 km / 1.852 = 2.376 milhas). Teriam realmente navegado 2.376 milhas desde C. Verde e feito 2.376 milhas em 445 horas com média de 5,3 nós ? Impossivel!!, e mais se temos que entre o dia 18 e o dia 22 não poderiam ter navegado 600 léguas. Visto esta impossibilidade, temos que entender estas medidas desde outro ponto de vista.
Analizemos as distancias indicadas por Álvaro Velho:
Desde Lisboa a S. Vicente de Cabo Verde são 1.555 milhas (segundo tabela de distancias
maritimas), menos as 2.376 em que dizia estar em mar no dia 22 de Agosto, dão 821 milhas, que
seriam as navegadas desde C. Verde até esse ponto. Ou seja, Álvaro Velho quando indicava as
800 léguas em mar, indicava a distancia total navegada desde Lisboa até 22 de Agosto: 2.376
milhas; e desde a saída de Cabo Verde, dia 3 de Agosto até o dia 18 de Agosto, haviam navegado
200 léguas ou 594 milhas " e seria isto duzentas léguas da Ilha de Santiago"; e, entre o dia 18 e 22 de Agosto teriam navegado 227 milhas ( 821 - 594= 227 ),o que é bastante mais entendivel.
De Lisboa a C. Verde navegaram 1555 milhas em 332 horas = 4,68 nós; de C. Verde ao dia 18 de
Agosto tinham navegado 594 milhas em 348 horas = 1,8 nós; entre o dia 18 e o 22 de Agosto
navegaram 227 milhas em 102 horas = 2,22 nós. Total navegado desde a saida de Lisboa, dia 8 de Julho até ao dia 22 de Agosto pela tarde, 2.376 milhas (800 léguas) em 782 horas = 3 nós de média.
Mas, que ilhas ou terras poderiam haver nesta parte do Atlântico Sul para onde se dirigiram
aquelas gaivotas? ("achámos muitas aves, feitas como garções, e, quando veio a noite, tiravam
contra o susoeste muito rijas como aves que iam para terra"). As únicas ilhas possiveis só podem
ser as do arquipélago de S. Pedro e S. Paolo que estão de Lisboa a 2.445 milhas de distancia e
coincidentes com o rumo da volta do mar empreendida por Gama.
Passamos a demonstrar que só podem ser estas as Ilhas a que se referia Álvaro Velho no seu
ROTEIRO, " e em vinte e dois do dito mês... achámos muitas aves, feitas como garções, e, quando veio a noite, tiravam contra o susoeste muito rijas como aves que iam para terra".
Situado a 01º 19',17 de Latitude Norte e a 029º 27',30 de Longitude Oeste, o arquipélago de S.
Pedro e S. Paulo , está distante 1.650 km das lhas de Cabo Verde, Porto Velho, ( situadas a 14º
39',14 de Latitude Norte e a 024º 24',21 de Longitude Oeste), a 704 Km a Este da Ilha de
Fernando de Noronha e a 1296 Km a Este de Recife, no Brasil. O rumo entre C. Verde e aquele
arquipélago é aproximadamente de 195º, ou sul quarta de sudoeste, justamente o rumo indicado
por Alvaro Velho, no seu ROTEIRO, em que diz terem saido de Cabo Verde dia 3 de Agosto em
Leste (isto é, com vento de Leste) e que com rumo de sul quarta de sudoeste (ou S 1/4 de SW ou
192º)..."E em vinte e dois do dito mês, indo na volta do mar ao sul quarta do sudoeste, (rumo 192º) achámos muitas aves, feitas como garções,".
Portanto, a frota de Vasco da Gama, dia 22 de Agosto, estaria a cerca de 821 milhas de Cabo
Verde. Ora o arquipelago de S. Pedro e S. Paulo está a 1650 km, ou 890 milhas de Cabo Verde e, se a 22 de Agosto, Álvaro Velho indica, que ao fim da tarde, as gaivotas voavam em direcção a susueste, isto só nos pode levar à conclusão de que, aquele dia 22 de Agosto, Vasco da Gama estava a cerca de 69 milhas a NNW deste arquipélago. (890-821= 69 milhas).
Os marinheiros, por sua experiência, sabiam que aquelas aves iam de volta a seus ninhos em
alguma ilha próxima que estaria entre a frota e a costa Africana. Alguns historiadores,
desconhecendo a existência deste arquipélago de S. Pedro e S. Paulo, tentaram ver um erro na
escrita deste nauta, ( que agora sabemos ter indicado distancias muito correctas), e indicavam que o voo das gaivotas deveria ser em direcção à terra que anos mais tarde seria visitada por Pedro Alvares Cabral e que foi conhecida como terra de Vera Cruz; outros, diriam que seria a ilha que mais tarde viria a ser conhecida por Fernando de Noronha, o que nos parece de todo impossivel ao estar esta ilha 380 milhas mais a oeste de S. Pedro e S. Paulo, ou a 1.270 milhas de C. Verde.
Outra Ilha que poderia ter sido o pouso daquelas gaivotas, seria a Ilha de Ascenção, situadas a 07º 55',54 Sul e a 014º 23'31 Oeste, aproximadamente a 143º ou sul ¾ de sueste de rumo desde C. Verde mas, Ascenção está a 2.676 km do Arquipelago de Cabo Verde, o que daria 1.445 milhas ou 486,6 léguas de distancia. Ora a 22 de Agosto, Álvaro Velho dizia que estavam a 821 milhas de C. Verde (1.520 km ou 276 léguas), o que nunca poderia coincidir com esta Ilha de Ascenção.
Há outra Ilha, que temos que descartar também, que é a Ilha de S. Matheus a 229 légas a susueste de Cabo Verde, (1260 km ou 680 milhas) pois não coincide também com o ROTEIRO, ao estar práticamente no Golfo da Guiné, contradizendo também, por isso, a lógica dos rumos
seguidos pelas frotas de Pedro Alvares Cabral e João da Nova, (que se seguiram a esta primeira
viagem de Gama), e que sabemos terem aportado às costas do Brasil seguindo, o primeiro, as indicações de Gama para a volta do mar..
Distancias entre C. Verde e os diversos arquipelagos e ilhas:
C. Verde / S. Pedro e S. Paolo 890 milhas 300 léguas
C. Verde / Ilha Fernando de Noronha 1.270 milhas 427 léguas
C. Verde / Ilha Ascenção 1.445 milhas 486 léguas
C. Verde / Ilha S. Mateu 680 milhas 229 léguas
C. Verde / Lisboa 1.555 milhas 523 léguas
Lisboa / S. Pedro S. Paolo 1.445 milhas 823 léguas
Lisboa a 22 de Agosto 2.376 milhas 800 léguas
Também quiseram os historiadores, com subjectiva interpretação, justificar a intencionalidade
do desvio para oeste de Alvares Cabral, que teria sido alertado por Vasco da Gama da possivel
existência de terras a occidente, pelo voo daquelas gaivotas, o que está de todo errado, visto
aquelas gaivotas se dirigirem em direcção a alguma terra que estaria entre a frota de Gama e África, sem qualquer relação, portanto, com a futura terra do Brasil, como acabamos de demonstrar.....
Por fim, o descrito por Alvaro Velho passa a ser entendivel e aquelas gaivotas iam efectivamente
em direcção su-sueste e, portanto, em direcção a uma ilha, ou terra, que agora sabemos ser o
arquipélago de S. Pedro e S. Paulo, por nós apontado.
O ROTEIRO apenas foi redescoberto por Alexandro Herculano em 1834 no mosteiro de Santa
Cruz em Coimbra, e publicado pela primeira vez quatro anos mais tarde, encontrando-se
actualmente na Biblioteca Pública Municipal do Porto. È a partir desta data que as interpretações
sobre a descoberta intencional do Brasil começam a tomar forma, e como quem conta um conto
acrescenta um ponto, os historiadores aproveitaram a ocasião para defender uma tésis que teria que ser apoiada pelo ROTEIRO, ainda que, para tal, tivessem que atribuir a erro de descrição o
testemunho presencial de Alvaro Velho, e não ao desconhecimento deles, historiadores, da
geografia Atlântica. Inclusivé, tentaram despromover a Álvaro Velho, de Vedor ou até piloto de uma das naus e nobre, a simples marinheiro ou homem de armas e plebeu. Com esta despromoção social, pretendiam justificar a falta de conhecimentos daquele nauta narrador, para colocar as suas tésis por cima da narração e do tetemunho directo. Até este ponto chegam alguns, de tão perversos e mesquinhos, a manipular a história para colocár- la ao seu serviço.
O arquipélago de S. Pedro e S. Paulo, deverá ter sido descoberto na terceira viagem dos
portugueses à India, comandada por João da Nova, e que partira de Lisboa em Maio de 1501, se
temos em conta que, S.Pedro, com celebração festiva a 29 de Junho, e S.Paulo, conhecido pela
sua terceira viagem a Efeso, em que passou triunfal por todas as suas Igrejas, como a resureição de Cristo ao terceiro dia, e que os dois Santos representam a Unidade da Igreja. Dois Santos, duas Ilhas, uma data em Junho e o numero 3; perfeita conjugação...
João da Nova também descobriu, nessa mesma viagem de 1501, as ilhas de Ascenção e Santa
Helena, o que nos aproxima muito à singradura de Vasco da Gama.
Possivelmente a expedição de Vasco da Gama passou a Oeste daquel arquipélago de S.Pedro e
S.Paolo, aproximadamente a 60 milhas de distancia, sem as avistarem mas conscientes da sua
existência . Depois de passarem por estas ilhas, Vasco da Gama, possivelmente 36 horas depois, ao cruzar o equador, terá alterado o seu rumo e posto proa ao Cabo da Boa Esperança. Estava então a 6.240 Km da sua primeira meta que era a Baía de S. Helena, na costa Oeste da Africa do Sul, a poucos kilometros do Cabo que o levaria finalmente à tão esperada India...
Se é como pensamos, que depois de cruzar o Equador, Vasco da Gama inflectiu o seu rumo em
direcção ao Cabo de Boa Esperança, isto nos leva a crer que a expedição pode ter sobrevivido, de
milagro, sem embater contra aquele arquipélago que deverão ter passado pela noite sem o verem.
Traçando o rumo a partir destas Ilhas, e sabendo que Vasco da Gama aportou algures entre a
fronteira da actual Namibia e África do Sul, possivelmente perto da actual cidade de Elizabeth Bay, o mesmo podemos dizer sobre as Ilhas de Ascenção e a de Santa Helena, que se não foram
avistadas, deverá ter sido porque passaram por elas, também pela noite, ou em dia de cerração.
Calculamos que deverá ter passado a cerca de 234 km, ou 126 milhas a Oeste da ilha de Ascenção e, aproximadamente a 10 de Outubro de 1497 (48,5 dias depois de 22 de Agosto), a cerca de 69 km, ou 37 milhas a Oeste da ilha de Santa Helena. ( A ilha de Santa Helena está a 3.230 km ou 1.744 milhas de S. Pedro e S. Paulo e a 2.900 km da baía de Santa Helena. Entre a ilha de Ascenção e a de Santa Helena são 1.298 km e entre esta última e Elizabeth Bay, 2.454 km)
Analizando o regime de ventos do Atlântico Sul para os meses de Julho- Agosto- Setembro,
vemos que entre as Ilhas de C. Verde e o arquipélago referido de S.Pedro e S. Paulo, há areas de
ventos muito fracos e correntes de Leste. Entre estas Ilhas e a Baía de Santa Helena, na costa
Africana, encontramos entre os 20 e os 30º de Latitude Sul, e aprox. entre os 0º e os 30 º W de
Longitude, novamente uma zona de ventos muito débeis no meio do Atlântico. Entre o arquipélago de S.Pedro e S.Paulo, e estas latitudes antes apontadas, o vento sopra predominantemente de Susueste, e desde esta zona até à costa africana de Santa Helena, sopra predominantemente do
quadrante Sul.
Assim, as dificuldades de navegação de Vasco da Gama esteve fundamentalmente em entrar em
zona de calmaria entre os dias 8 a 25 de Agosto, (segundo nossa apreciação), e logo em ter que
navegar contra o vento, obrigando-o a efectuar uma navegação em ziguezague ( ganhando Sul e
Este) até aproximadamente os 25º de latitude Sul e o actual meridiano 0º e, a partir daquí, ao
experimentar ventos do Sul, emendou o seu rumo em direcção à costa Africana, estando assim
justificado o ter aportado algures ao norte de Santa Helena, quer pela direcção dos ventos quer pelas correntes que também são do Sul, o que fez derivar a frota para norte do Cabo de Boa Esperança. (ver: Corrente Fria de Benguela)...
A zona de maior força de vento está entre o arquipélago de S. Pedro e S.Paulo e os 20º Sul e os
15º Oeste. No resto da derrota , a frequencia de vento é normal.. Está, portanto, parcialmente
justificado o que dizem os Historiadores de que, "os navios com muitas tormentas de ventos, chuvas e serrações".. ou "com muitas tormentas e tempos contrários".
A seguir mostramos os mapas de correntes maritimas e o regime de ventos para os meses de
Julho e Agosto e a nossa interpretação sobre a rota seguida nesta 1ª viagem de Vasco da Gama.
O mais extranho nesta viagem de C. Verde à Baía de Santa Helena, é que, apesar de terem estado em alto mar por um periodo de tres meses, que não haja notícias de que a tripulação tenha sofrido de escurbuto. Os primeiros casos de escurbuto apareceran, surprendentemente, já nas costas de Moçambique quando a frota inspeccionava o rio Zambeze, e dizemos que isto è surprendente porque Vasco da Gama e os seus homens, foram agasalhados pelas gentes da terra, com comida e fruta da terra, " subiam às naus como se foram de amigos seus de muitos anos, e traziam aos portugueses do que a terra produzia". Já na viagem desde a India a Portugal, este mal, provocado
pela falta de vitamina C que aportam os alimentos frescos, principalmente frutas, dizimou a maior parte da tripulação. O escurbuto aparece aos dois meses de falta de ingesta desta vitamina. A conclusão lógica è de que a tripulação de Gama teria saído bastante bem alimentada de Portugal, e o aprovisionamento em Cabo Verde foi de qualidade suficiente para evitar aquele mal.
Cálculamos em 8.245milhas o total de milhas navegadas desde C. Verde à costa sul-africana,
incluindo os zigzag, e o total desde Lisboa à baía de Santa Helena em 9.800 milhas. Destas, durante 7.000 milhas navegou Vasco da Gama com ventos contrários, e destas, durante 1.600 milhas, navegou com ventos fortes ou muito fortes e contrários. Ou seja, desde Lisboa à baía de Santa Helena, ( 9.800 milhas), teve ventos favoraveis durante 2.800 milhas e ventos contrários durante 7.000 milhas (aquí incluimos aprox. 3.600 milhas de zonas de vento fracos ou muito fracos,).
Portanto, teve ventos contrários durante 71% de sua viagem entre Lisboa e a baía de Santa Helena.
Total de milhas navegadas: 9.800 :2.538 horas= 3,9 nós aprox., média bastante razoável para
aquela época e pela sujidade dos cascos depois de tantos meses de navegação por mares tropicais.
Terminamos aquí a nossa interpretação da primeira parte da viagem de Vasco da Gama à India.
Seguem os mapas de ventos e correntes maritimas e os possiveis rumos seguidos pela armada de
Gama.
© Fernando Leite Velho
PRIMEIRA PARTE DO CHAMADO ROTEIRO DA ÍNDIA
Em nome de Deus, Amém. Na era de 1497 mandou el-rei D. Manuel, o primeiro deste nome em
Portugal. a descobrir, quatro navios, os quais iam em busca de especiarias, dos quais navios ia porcapitão-mor Vasco da Gama, e dos outros: dum deles Paulo da Gama, seu irmão, e do outro NicolauCoelho.
Partimos do Restelo um sábado, que eram oito dias do mês de Julho da dita era de 1497, nosso
caminho, que Deus Nosso Senhor deixe acabar em seu serviço. Amém.
Primeiramente chegámos ao sábado seguinte à vista das Canárias, e essa noite passámos a julaventode Lançarote, (sotavento de Lançarote; a Este de Lançarote) e à noite seguinte amanhecemos com aTerra Alta, onde fizemos pescaria obra de duas horas, (possivelmente no Cabo Bojador) e logo esta noite,em anoitecendo, éramos através do Rio Oiro. (No antigo Sahara Espanhol, Vila Cisneiros, actual Dahkla).
E foi de noite tamanha a cerração que se perdeu Paulo da Gama de toda a frota por um cabo e, pelooutro, o Capitão-mor. E, depois que amanheceu, não houvemos vista dele nem dos outros navios; e nósfizemos o caminho das Ilhas de Cabo Verde como tinham ordenado que quem se perdesseseguisse esta rota.
Ao domingo seguinte, em amanhecendo, houvemos vista da Ilha do Sal, e logo daí a uma hora
houvemos vista de três navios, os quais fomos demandar; e achámos a nau dos mantimentos, NicolauCoelho e Bartolomeu Dias, que ia em nossa companhia até à Mina, os quais também tinham perdido oCapitão-mor.
E, depois de sermos juntos, seguimos nossa rota, e faleceu-nos o vento e andámos em calmaria até àquarta-feira seguinte. E, às dez horas do dia, houvemos vista do Capitão-mor, avante nós obra de cincoléguas; e sobre a tarde nos viemos a falar com muita alegria, onde tirámos muitas bombardas e tangemostrombetas, e tudo com muito prazer por o termos achado.
E ao outro dia, que era quinta-feira, chegámos à Ilha de Santiago onde pousámos na Praia de SantaMaria com muito prazer e folgar.
E ali tomámos carnes, e água e lenha; e corrigindo as vergas dos navios, porque nos era necessário.
E uma quinta-feira, que eram três dias de Agosto, partimos em leste e, indo um dia com sul, quebrou averga ao Capitão-mor, e foi em dezoito dias de Agosto; e seria isto duzentas léguas da Ilha de Santiago. E
em vinte e dois do dito mês, indo na volta do mar ao sul quarta do sudoeste, achámos muitas aves, feitascomo garções, e, quando veio a noite, tiravam contra o su-sueste muito rijas como aves que iam paraterra; e neste mesmo dia vimos uma baleia, e isto bem oitocentas léguas em mar.
A vinte e sete do mês de Outubro, véspera de S. Simão e Judas, que era sexta-feira, achámos baleias, eumas que se chamam focas, e lobos-marinhos. (estas focas e lobos marinhos, passam a maior parte do
empo bastante longe de terra, na zona de passo de cardumes de sardinhas, e só voltam a terra para criarnas costas de Namibia e África do Sul)
Uma quarta-feira, primeiro dia do mês de Novembro, que foi de Todos-os-Santos, achámos muitos sinaisde terra, os quais eram uns golfões que nascem no longo da costa.
Aos quatro dias do dito mês, sábado antemanhã, achámos fundo de cento e dez braças ao mais. E, àsnove horas do dia, houvemos vista de terra; e, então, nos ajuntámos todos e salvámos o Capitão-mor, commuitas bandeiras, estandartes e muitas bombardas, e todos vestidos de festa. E em este mesmo diavirámos, bem junto com a terra, na volta do mar; porém, não houvemos conhecimento da terra. (não
baixaram a terra)
À terça-feira viemos na volta da terra, e houvemos vista de uma terra baixa e que tinha uma grandebaía. O Capitão-mor mandou Pêro de Alenquer no batel, a sondar se achava bom pouso, pelo qual aachou muito boa e limpa e abrigada de todos os ventos, somente de nordeste.(excepto de nordeste). E elajaz leste-oeste, à qual puseram nome Santa Helena.
À quarta-feira lançámos âncora na dita baía, onde estivemos oito dias limpando os navios e corrigindoas velas e tomando lenha.
A narração segue com a saída da baía de Santa Helena e o resto da viagem, que analizaremos em outroescrito posterior.-
Do nosso estudo de genealogia, sobre a familia Velho, o qual seguimos parcialmente a Felgueiras
Gaio, copiamos este trecho sobre a familia de um Álvaro Velho, que queremos ser o que escreveu oRoteiro. Aquí fica o dato.
XVII.2-Fernão Velho2, filho de Vicente Eanes Velho, recebeu por Mercê de D.Fernando a Alcadia Mor doCastelo de Valada e D'ElRei D. João II certos bens em Sevilha, pelos muitos serviços de seu pai VicenteEanes. Foi Cavaleiro de S'Antiago, c.c. Maria Afonso Cabral, da casa de Belmonte3 com quem teve:
XVIII.1- Gonçalo Velho Cabral, que descobriu a Ilha de Stª Maria, nos Açores, no ano de 14324
XVIII.2- Álvaro Velho5, que creio ser o que acompanhou a Vasco da Gama na 1ª viagem á India e deixouescrito o relato desta viagem. Era Veador (Intendente) desta Armada e acompanhou a Vasco da Gama naprimeira visita ao Samorim. (ver: Cap. VIII pág. 241 do livro " VASCO DA GAMA" por J.M. Latino Coelho, Edição da: Betrand Editora, Lisboa 2007)
XVIII.3- D. Teresa Velho, mãe de João Soares de Albergaria que foi o 2º Capitão da Ilha de Stª Maria , por nomeação do seu Tio, Gonçalo Velho Cabral, supra
XVIII.4- D. Leonor Velho, que queremos ser a que casou com João Afonso Coscos, cuja geração segue §B
XVIII.5- D. Violante Velho Cabral, c.c. Diogo Gonçalves de Travassos, vedor da casa do Infante D.Pedro, oRegente c.g.
XVIII.6- Nuno Velho Cabral, ( Esta descendência de Nuno Velho Cabral, aparece no “Armorial Lusitano”, quandotrata da família Godolfim, pág. 253) pai de:
XIX.6.1- Margarida Rangel, c.c. Francisco Bormans, da Ilha de S. Miguel, pais de:
XX- António Cabral, nascido na Ilha de S.Miguel, nos Açores, cavaleiro do hábito de Sant' Iago, fidalgocavaleiro da Casa Real e cabo dos galeões no Estado da Índia, casou em segundas núpcias com D.Maria daCunha, filha de João Cardoso da Cunha e de D.Maria Correia.. Foram pais de:
XXI- António Cabral da Cunha Velho, fidalgo cavaleiro da Casa Real, natural de Lisboa, a quem o
embaixador inglês na Corte espanhola, Sir William Godolphin, chamava de primo em carta escrita de Madridem data de 27.12.1685. Casou com D.Bárbara Maria de Matos, filha de D.Lourenço de la Roche, fidalgofrançês, e de sua mulher, D.Cecília de Almeida, natural de Lisboa.
XVIII.4- D. Leonor Velho6, supra, c.c. João Afonso Coscos.
Filha:
2 Também encontrámos na Torre do Tombo a: Fernão Velho, casado com Imaculada (? Iª) de Almeida e um seu irmão,
Gaspar Velho, que viviam no Porto no ano de 1508...
- Francisco Velho, que foi cidadão da Cidade do Porto e fez testamento no ano de 1583, a favor de sua mulher..(?). e
filho Manuel Velho....
3 Casa de Belmonte, de onde procede Pedro Álvares Cabral. Assim Gonçalo Velho Cabral e Álvaro Velho eram
primos segundos de Pedro Álvares Cabral.-
4 Em 1415 e em 1416, Gonçalo Velho junto com D.João de Castro, ao serviço do Infante D.Henrique, assumiram o
comando de duas expedições de conquista ás Canárias.
5 Heveria incompatibiladade de datas, pois se este Álvaro Velho era irmão de Gonçalo Velho Cabral, haveria cerca de
81 anos até à descoberta da India... Poderia ser sobrinho ou até neto?
6 Ver pág. 98 do “Armorial Lusitano”, tºtº Bethancourt
XIX- D. Brites Velho c.c. Gaspar Perdomo, n.c. 1440 filho legitimado de Gaspar de Bethancourt, sucesor do
morgado de Águas de Mel, primo de Rui Gonçalves da Câmara. Este Gaspar de Bethancourt, era filho de
Henrique de Bethancourt, um dos dois sobrinhos que acompanharam a João de Bethancourt, o 1º
conquistador das Canárias, que era filho de outro João de Bethancourt, Sr. dos lugares de Bethancourt e de
Granville, na Normandia, camareiro-mor do duque de Borgonha, casado com Madame Maria de Braquemont
Florenville e Sedan, que vivia por 1360.
Aquele João de Bethancourt, filho, armou navios no ano de 1417, com o desejo de achar novas terras e
aportou ás Ilhas Canárias, em Lançarote2, a qual foi de seu senhorio. Deixou esta ilha entregue a dois
sobrinhos que levara consigo, Maciot e Henrique de Bethancourt, filhos de seu irmão Reinaldo de
Bethancourt, não tendo voltado á sua Pátria porque alí morreu, tendo porém alí deixado filhos ilegítimos, dos
quais provém descendência nestas Ilhas Canárias. Falecendo Henrique, passou a totalidade do senhorio de
ditas Ilhas a Maciot, que as vendeu ao Infante D.Henrique de Portugal e passou á Ilha da Madeira, onde teve
o direito sobre as saboarias da Ilha. Foi Maciot, Cavaleiro da Ordem de Malta e casou com uma filha de Rui
Gonçalves da Câmara, sem geração, mas deixou geração ilegítima, quer na Ilha da Madeira quer nas
Canárias, que continuaram o apelido. Maciot de Bethancourt instituiu o morgado de Águas de Mel, que
passou, por falta de geração legítima, a seu primo Gaspar de Bethancourt, supra referido, pai do sobredito
Gaspar Perdomo. Assim, os Perdomo das Ilhas Canárias, são também desdendentes dos Velho .
Pela data aproximada em que se deve ter efectuado este casamento, podemos supor que tenha algo que ver o
facto de Diogo da Silva, conde de Portalegre, que era parente de D.Leonor Velho, e um dos senhores da
conquista de Canárias, e o facto de a filha desta, D. Brites Velho, ter casado com um descendente de João
de Bethancourt, o 1º conquistador daquelas ilhas. Dos amores de Diogo da Silva e uma aborigem canária,
nasceu Inês Chimida, a qual fundou o mosteiro de S.Pedro o Mártire, na cidade de Telde, Ilha de Gran
Canária, destinado à curação de doentes. Ainda hoje se pode ver a pequena Ermita, subjacente àquele
desaparecido mosteiro. -
Telde, 28 de Julho de 2009
© Fernando Leite Velho
2 Encontrei na Torre do Tombo a este Lançarote, que andou navegando no tempo de D. João I, o que me chamou
poderosamente a atenção, pois pode ser que tenha sido este a dar o nome à Ilha Canária de Lançarote e não como
aparece normalmente aceite na historiografia tradicional, de que teria sido o nome desta Ilha derivado de Sir
Lancelot, ou como diz Leonardo de Torriani na sua História, “ Descrição e história do reino das Ilhas Canárias”, ser
o nome derivado do françês lanscurt, e que depois os espanhóis corrompendo este, a chamaram de Lançarote.
Também é verdade que temos a outro “Lançarote Pessanha, que foi almirante no tempo de D.Pedro I e D.Fernando,
filho de Micer, Manuel Pessagno, que veio de Genova servir a D.Diniz, que o contratou como Almirante de Portugal,
para organizar a marinha do Reino de Portugal. Outro filho de Manuel Pessagno, Bartholomeu Pessanha, casou com
D.Leonor Gomes de Azevedo, filha de Gonçalo Gomes de Azevedo, alferes de D.Afonso IV”. In Armorial Lusitano